Dependência Emocional: Quando Falha a Segurança
Você conhece quem seja dependente de estar sempre com alguém? Ou, quem sabe, tenha você mesmo esse perfil? Esse padrão revela muito sobre o histórico de vida.
O perfil dependente
Geralmente a pessoa com o perfil de dependente emocional não faz muito (ou nenhum) critério em relação às suas companhias. O que importa é estar com alguém, independentemente de qualquer outra questão.
Esse perfil revive relações, mesmo com outras pessoas. As individualidades podem ser outras, mas remetem a um passado não curado. E isso pode custar muito caro.
O estresse causado por isso pode ser tamanho a ponto de critérios importantíssimos de autopreservação serem desconsiderados.
As relações podem ser difíceis
Há quem se insira e permaneça em relacionamentos abusivos para não se sentir só. Uma vez percebido o padrão destrutivo desses relacionamentos, a pessoa tende a se observar sem possibilidades de sair desse ciclo, seja com dificuldade de dizer "não", seja a permitir atitudes desrespeitosas, desde as pequenas até as grandes, ou então escolher "perdoar" e deixar para lá um posicionamento mais contundente e respeitoso consigo mesmo (e nesse perdoar, leia permanecer inerte mas com uma mágoa destrutiva que se destinará à própria pessoa que a sente)...
Ressalta-se que nem sempre é possível a convivência, mesmo quando perdoamos. Inclusive, mesmo quando há amor. Depende de nós mesmos o ato de perdoar mas não somos donos da capacidade de ação de ninguém. Se a pessoa perdoada, de fato, tornar a causar mais dor e sofrimento, seja de propósito ou não, isso mostra que há algo muito deturpado nela que precise ser regulado.
No entanto, o "perdoar", que também pode ser entendido como deixar para lá em um primeiro momento (sem o desapego da impressão negativa), algo que acontece muito na dinâmica da dependência, vitimiza ainda mais a pessoa que ficou machucada e, com isso, ela pode inferir essa dor em si mesma, causando rancor ou, inclusive, adoecimentos psíquicos e/ou físicos. Isso evidencia que há algo a ser regulado em si mesma.
Mas e quanto ao abandono de si mesmo? Como lidar com todas as sequelas? Esse abandono de si mesmo pode ser algo tão prejudicial quanto sem volta... Há quem perca a própria vida com isso, infelizmente... Realidade com uma recorrência grande... Mas há saída e recuperação enquanto há tempo.
Como surge, então, esse medo de estar sem companhia?
Tudo começa no princípio, na relação primordial que um ser humano tem: família. Na hipótese de destinação a adoção ou abandono, os núcleos primeiros com os quais a criança convive.
Sim, esse primeiro núcleo de pessoas (normalmente a família) é a parte inaugural da sociedade com a qual convivemos e também é reflexo de outros núcleos. Para começar, temos dois genitores, que possuem dois genitores cada um, com irmãos ou não, tios, avós, dentre outros familiares...
Via de regra tomamos como exemplo da humanidade, capacidades e potencialidades aquilo ao qual estivemos em contato. Um conjunto interferindo direta ou indiretamente em um ser humano, que interage com outros, e outros... Trata-se de um reflexo.
A questão possui uma complexidade, uma dinâmica, e versa por exemplificar a pluralidade nas comunicações humanas.
O que se vê, compreende e percebe em relação ao outro tanto é reflexo nosso quanto, também, desse outro.
O papel do trauma
A dependência emocional ocorre diante de uma cisão, uma impressão de corte na confiança. Ela se apresenta com o medo, a vulnerabilidade, a sensação de abandono, de humilhação, de rejeição.
A impossibilidade de evitar, ou lidar e solucionar a questão formata o trauma, o que acentua as marcas do que se passou. Esse marco se enraíza na vida da pessoa que sofreu essa interferência, o que torna possível a criação de padrões.
Vejamos como exemplo, uma pessoa que se sinta rejeitada pelos pais pode reproduzir essa questão inúmeras vezes em demais relacionamentos. A reprodução pode ocorrer pela conexão com pessoas indisponíveis ou que venham a se tornar faltantes a ela, o que fatalmente promoverá uma atualização nesse trauma e pode, inclusive, provocar outros (a retraumatização).
Ela faz isso por vontade própria, conscientemente? Não. Ela reproduz uma ferida que doeu tanto a ponto de não ter dado conta e passa a reproduzi-la sem que queira, diante do caos instaurado em sua mente.
O que fazer?
É preciso organizar esse conteúdo caótico e promover a própria liberdade a partir dele. Procurar culpados ou mesmo julgar alguém por sofrer ou causar sofrimento pode ser algo perigoso, servir de muletas para a autodepreciação. No entanto, a percepção de responsabilidades pode ser parte da solução. Mas o ideal mesmo é se fortalecer, se (re)conhecer a ponto de esses padrões se findarem.
A percepção de que algo não se está seguro, de que há algo que promova um marco do qual não se sai mais, pode ser reversível, mas com trabalho terapêutico. É inequívoca essa necessidade de conhecer a raiz desse receio, do medo que aprisiona.
Acesse o site abaixo para iniciar o processo de saída desses problemas e, finalmente, seguir seu caminho com mais harmonia.
Lúcia Rebelo, Psicanalista Clínica
