A Vulnerabilidade e as Tentativas Fracassadas de Superá-la
A impressão de vulnerabilidade é percebida veja muito cedo... Quando percebemos que não temos tudo o que gostaríamos e não conseguimos lidar com a vida a partir da maneira como fazíamos pulsional e intuitivamente na primeira infância, mais precisamente a partir do momento do nascimento, quando demandávamos de outra pessoa o nosso bem-estar e a subsistência, tendemos a experimentar a frustração e o desalento.
Naquela época remota, em que não existia qualquer meio de sobrevivência a não ser a demanda outro por meio manifestação do choro alto, recebíamos a atenção desejada para que nos sentíssemos bem, atendidos, resguardados, alimentados, suplementados.
Crescemos e a partir do momento em que percebemos as incertezas e a nossa atuação sobre a nossa própria vida e o meio em que estamos inseridos, percebemos demais sentimentos e emoções, inclusive o medo.
As percepções de ameaça ao nosso bem-estar dão lugar a representações e criações mentais que são conhecidas como mecanismos de defesa do ego. Passamos a perceber o outro como algo a temer e rechaçar. Daí surgem os preconceitos, inclusive.
Intuitivamente busca-se por um estado de inteireza perdido, que se encontra a nível inconsciente. Plenitude essa caçada a preço de ouro, a chamada felicidade, talvez? Aliás, qual a sua busca? O quanto se gasta de vida e dinheiro para (re)organizar tudo, não é mesmo?
Medo, raiva, rancor, mágoa, vazio, solidão, frustração, culpa, angústia... São exemplos do que começamos a sentir desde cedo, diante do desajuste, da quebra, assim como os sentimentos entendidos como bons. E com isso a pluralidade da vida ganha forma. O caos percebido pode dar lugar à ordem.
Mas não há educação emocional na formação de quase todos os indivíduos. O que se aprende em relação a isso, à essa profusão de acontecimentos internos e externos? Ao negar, deixar para lá, engolir o choro, culpar a um outro, descarregar em algum lugar... Isso tudo sem elaborar o que se sente, o que se pensa ou imagina.
Surgem os vieses, os pensamentos distorcidos com base em dores... E com esse conteúdo crescemos, saímos da companhia massiva da família e escola e seguimos rumo ao mundo adolescente e adulto, com novas experiências, novas demandas, novas necessidades, bem como reedição de ocasiões em que os sentimentos ressurgem e se tornam mais complexos.
E o preparo emocional? E o (re)conhecimento de si, do lugar no mundo, como fica, onde fica? Não fica, não há. O que resta, sem uma base para a vida, imaginar como fazer para reparar o prejuízo e inventar personagens... Lembremo-nos que uma pessoa sem base quase que fatalmente se encontra desprovida de discernimento para conseguir progredir. Essa é a realidade. Vide a sociedade como está.
E sobram personagens: o forte, o impetuoso, o vitimista, o desbravador, o demandante, o romântico, o evitativo, o arrogante, o sabe tudo, o hierarquizado, etc... Tudo é tido como "válido" desde que não se lembre da quebra inicial, da vulnerabilidade.
Personagens esses que não se sustentam, cujos muros construídos ao redor são tão frágeis que começam a ruir ao menor impacto. Juntam-se a esse cenário traumas, retraumatizações e relações disfuncionais, acrescidos de doenças.
E a criança assustada retorna com os abalos. E chora, e grita e sofre... Reage como pode, como consegue. E se entristece, e firma o pensamento no negativo, e não consegue sair dessa realidade ruim e se afunda ainda mais...
As emoções em desordem, sem reconhecimento e elaboração, são como mar revolto. E quem afunda é quem os produz no próprio organismo, quem os sente, justamente se não houver uma compreensão a respeito da própria vulnerabilidade humana e a contemplação das incertezas da vida.
O quanto o ser humano precisa se inteirar de si e perceber que precisa estar em consonância com a vida, hein?
Por Lúcia RebeloPsicanalistaAgendamento de consultas ,sessões de Psicanálise ->> www.luciarebelo.com.br
A impressão de vulnerabilidade é percebida veja muito cedo... Quando percebemos que não temos tudo o que gostaríamos e não conseguimos lidar com a vida a partir da maneira como fazíamos pulsional e intuitivamente na primeira infância, mais precisamente a partir do momento do nascimento, quando demandávamos de outra pessoa o nosso bem-estar e a subsistência, tendemos a experimentar a frustração e o desalento.
Naquela época remota, em que não existia qualquer meio de sobrevivência a não ser a demanda outro por meio manifestação do choro alto, recebíamos a atenção desejada para que nos sentíssemos bem, atendidos, resguardados, alimentados, suplementados.
Crescemos e a partir do momento em que percebemos as incertezas e a nossa atuação sobre a nossa própria vida e o meio em que estamos inseridos, percebemos demais sentimentos e emoções, inclusive o medo.
As percepções de ameaça ao nosso bem-estar dão lugar a representações e criações mentais que são conhecidas como mecanismos de defesa do ego. Passamos a perceber o outro como algo a temer e rechaçar. Daí surgem os preconceitos, inclusive.
Intuitivamente busca-se por um estado de inteireza perdido, que se encontra a nível inconsciente. Plenitude essa caçada a preço de ouro, a chamada felicidade, talvez? Aliás, qual a sua busca? O quanto se gasta de vida e dinheiro para (re)organizar tudo, não é mesmo?
Medo, raiva, rancor, mágoa, vazio, solidão, frustração, culpa, angústia... São exemplos do que começamos a sentir desde cedo, diante do desajuste, da quebra, assim como os sentimentos entendidos como bons. E com isso a pluralidade da vida ganha forma. O caos percebido pode dar lugar à ordem.
Mas não há educação emocional na formação de quase todos os indivíduos. O que se aprende em relação a isso, à essa profusão de acontecimentos internos e externos? Ao negar, deixar para lá, engolir o choro, culpar a um outro, descarregar em algum lugar... Isso tudo sem elaborar o que se sente, o que se pensa ou imagina.
Surgem os vieses, os pensamentos distorcidos com base em dores... E com esse conteúdo crescemos, saímos da companhia massiva da família e escola e seguimos rumo ao mundo adolescente e adulto, com novas experiências, novas demandas, novas necessidades, bem como reedição de ocasiões em que os sentimentos ressurgem e se tornam mais complexos.
E o preparo emocional? E o (re)conhecimento de si, do lugar no mundo, como fica, onde fica? Não fica, não há. O que resta, sem uma base para a vida, imaginar como fazer para reparar o prejuízo e inventar personagens... Lembremo-nos que uma pessoa sem base quase que fatalmente se encontra desprovida de discernimento para conseguir progredir. Essa é a realidade. Vide a sociedade como está.
E sobram personagens: o forte, o impetuoso, o vitimista, o desbravador, o demandante, o romântico, o evitativo, o arrogante, o sabe tudo, o hierarquizado, etc... Tudo é tido como "válido" desde que não se lembre da quebra inicial, da vulnerabilidade.
Personagens esses que não se sustentam, cujos muros construídos ao redor são tão frágeis que começam a ruir ao menor impacto. Juntam-se a esse cenário traumas, retraumatizações e relações disfuncionais, acrescidos de doenças.
E a criança assustada retorna com os abalos. E chora, e grita e sofre... Reage como pode, como consegue. E se entristece, e firma o pensamento no negativo, e não consegue sair dessa realidade ruim e se afunda ainda mais...
As emoções em desordem, sem reconhecimento e elaboração, são como mar revolto. E quem afunda é quem os produz no próprio organismo, quem os sente, justamente se não houver uma compreensão a respeito da própria vulnerabilidade humana e a contemplação das incertezas da vida.
O quanto o ser humano precisa se inteirar de si e perceber que precisa estar em consonância com a vida, hein?
Por Lúcia Rebelo
Psicanalista
Agendamento de consultas ,sessões de Psicanálise ->> www.luciarebelo.com.br
